quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

2015 - Um ano pausado

Esse foi ano em que fiquei enclausurado. Não gostei. Vivi a maior parte do tempo em um quarto quente e seco. E como é difícil viver numa cidade extremamente restritiva depois de ter toda a América do Norte por dois anos, pelo menos em possibilidade, claro. A sensação de poder fazer alguma coisa ajuda...

Pausa pra ler um artigo.

E 2015 foi o ano em que me desapeguei muito das coisas materiais - o que é difícil para um colecionador de cd's e dvd's. Aliás, aderi quase por completo aos encantos do Blu Ray.
E então foram dezenas de discos, filmes, shows e documentários que deixaram a minha casa e com eles, lembranças e experiências.

Pausa pra ler um capítulo de um livro.

Eu vi muitos filmes, mas muitos filmes mesmo, a lista seria enorme, e já até coloquei alguns aqui... Mas tomei um tempo pra rever sagas e filmografias... Então Dirty Harry, O Homem sem nome, Rocky, Rambo, Máquina Mortífera, A Hora do Pesadelo, Tremors, Batman (de Tim Burton a Nolan), Matrix, Indiana Jones, Mel Brooks, O Poderoso Chefão, O Predador, O Exterminador do Futuro e quase tudo de Arnold Schwarzenegger, The Cornetto Trilogy, Stephen King, Steven Spielberg, Austin Powers e ainda sete temporadas de Doctor Who! Ufa...

Pausa pra escrever um trabalho e enviar a um congresso.

E como tive que lidar com burocracia, foram tantos formulários, cópias, emails, solicitações, dúvidas, telefonemas, raivas, frustrações, mais raiva, indignação... Aprendi a odiar algo e foi a burocracia.

Pausa pra ler um livro. 

Eu fui à Europa pela segunda vez. Berlin para sempre estará nas minhas lembranças, Paris também. A primeira eu adorei, a segunda eu não pretendo mais rever.

Pausa pra apresentar um trabalho num congresso.

E eu descobri os quadrinhos. Como eu tinha preconceito, felizmente como vários outros, esse se foi e me deixou uma nova mídia pra explorar. Bem-vindas graphic novels, hq's, gibis!

Pausa pra escrever tese.

E o melhor do ano foi o sorriso mais contagiante, as descobertas do mundo, o aprendizado de viver com minha mocinha...

Pausa pra escrever tese.

E 2015 foi ano cheio de pausas, mas não pausas na tese e sim na vida. Afinal, as teses parecem que nunca terminam, nunca "dormem", nunca relaxam... Que 2016 me deixe livre de você, sua tese.


Pausa pra viver. 

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Top 10 - 2015 - Som & Video


Esse foi um ano em que pude ouvir muita música, afinal trabalhar com ela é mais fácil. Eu me permiti também ver mais filmes e foram muitos! Sentia falta de ver coisas novas (feitas há muito tempo) e rever muita coisa... Eis uma lista sem ordem definida...

Top 10 - Músicas

Photographing Rain - Kitchens of Distinction - É possível uma música construir uma atmosfera tão incrível em 4 minutos?
ForeverYoung - Alphaville - assistindo ao belíssimo filme 1987, me deparo com essa pérola subestimada dos anos 80.
Crimsonand Clover - Tommy James & The Shondells - de uma menção honrosa do ano passado, teve presença forte esse ano.
Tea- Jim Noir - Uma dessas músicas que parece que só eu conheço...
EveryMorning - Mascis, J - Só ouvindo pra entender...
OTempo Não Para  Cazuza - Ah, Seu Cazuza, você tinha razão.
Aquie Agora - Gilberto Gil - Vivendo com a menina do sorriso mais bonito, essa música é a melhor trilha sonora.
Incinvible- Muse - Irresistível!
KeepUnder Cover - Paul McCartney - De uma inocência quase sacana!
EveryLitle Thing She Does is Magic - The Police - Num domingo à tarde, eu vi minha mocinha dançando espontaneamente ao som dessa música, que bela lembrança.
NaturezaNoturna - Essa letra é quase uma autobiografia, muito obrigado Fagner!
MyLove - Lenny Kravitz - A trilha sonora de Paris.
ThatLook You Give That Guy - Eels - Parece anos 70, parece brasileira, parece... mas não é!

Menções honrosas:
Moses'Pain - Jonathan Wilson - Dire Straits e Bob Dylan são homenageados (na minha percepção) nessa belíssima canção.
FirstWe Take Manhattan - E finalmente eu tomei as duas!
Don'tstop believin' - Journey - Entendo o porquê dessa música ser tão famosa.
Sowingthe Seeds of Love - Tears for fears - Voltando dos anos 90!


Top 10 Filmes

ExMachina - De prender o fôlego. A ficção científica precisava de um filme como esse.
Love& Mercy - Belíssima homenagem/cinebiografia de Brian Wilson, um dos maiores gênios da música do século XX.
Whiplash - um dos melhores filmes sobre música que eu já vi!
Serou não ser - Mais uma comédia genial de Mel Brooks.
Under Influence - Um documentário  pra se sentir ao lado de Keith Richards.
1987 - Uma pérola quebequense!
RapazSolitário - Um dos clássicos da minha infância, eu redescubro e com a dublagem que eu havia memorizado, obrigado Netflix!
MadMax - A estrada da Fúria - Fiquei com a sensação de ver um filme de ação de verdade!
DoctorWho - De todas as séries, a mais antiga me pegou. Allons-y!
EraUma Vez na América - Redescobri um clássico! Obrigado Sergio Leone!


Menções honrosas:
007contra Spectre - Um Bond com cara dos anos 60.
TrêsHomens em Conflito - Redescobri outro clássico! Muito obrigado Sergio Leone!

Cássia - Eu esperava mais, mas talvez não fosse possível.
TimMaia - a cinebiografia de um dos caras mais interessantes da música brasileira.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Paternidade, ano 3 (Ana dialogando)

Ana adora falar, perguntar, responder, falar! E são dela os melhores diálosgos de 2015. Na data desse post, ela tem 3 anos e 1 mês!


21/12
Assistindo o filme Batman Begins:

Eu - Ana, olha ali o Batman!
Ana - Não papai, é um homem com uma fantasia.

Acabou-se a minha fantasia!

11/11
Ana estava cantando a música do desenho Frosen

A tia - Aninha, você deve sonhar cantando isso, né?
Ana - Não Tia Lú, eu sonho calada, só canto quando estou acordada.

18/08
Dias antes de Ana viajar

Eu - Ana, você vai viajar e eu vou ficar aqui sozinho!
Ana - Não papai, você vai ficar com as minhas bonecas.
Eu - Mas eu quero ficar com você!
Ana - Você vai ficar com minhas bonecas... Oh, tem a Lili, a Duda, a Beta...
As bonecas apaziguam a solidão?

10/07
No chameguinho matinal:

Ana - papai, faça a barba! 
Eu - oxi, pq?
Ana - pra eu lhe dar beijinho
Eu - mas eu não quero fazer a barba! 
Ana - mas eu quero lhe dar beijinho, então vá fazer a barba agora, oxi papai!!! Oxi!!!


27/06
Na sua segunda viagem de ônibus em Recife:

Ana - PAPAI! Eu to gostando!!! - em voz alta e alegre
Eu - E é? Por que?
Ana - Porque eu vejo as árvores, os carros, o caminhão, a rua, as pessoas... e... e... O Rio Ca pi ba ri be!!!! Èba!!!! O Rio Capibaribe!

Ana nasceu em Recife, mas desde bebê vive no sertão.


22/06
Se preparando para dormir:

Vovó: Aninha, você quer dormir com vovó?
Ana: não, quero dormir com meu papai.
Vovó: mas por que você não quer dormir com vovó?
Ana: eu vou dormir com meu pai que ele me protege! 
Eu: !!!!!!!!!!


19/06
Uma pessoa que viu Ana pela primeira vez, pergunta:

Pessoa: Oi Ana, você fala inglês?
Ana: Não, eu falo normal! 
Pessoa: hahaha, mas seu pai e sua mãe falam inglês e você?
Ana: Eu já disse que falo normal, oxi!

29/05
Se arrumando para ir a Escola:

Ana - papai eu não quero essa sandália. 
Eu - por que?
Ana - olha aqui, minha blusa é branca, a outra sandália é branca. Essa é rosa.
Eu - então você quer uma sandália que combine com sua blusa?
Ana - Sim! - balançando seguidas vezes a cabeça e já calçando a sandália branca.

Ana só tinha dois anos e meio!


17/05
Acordando com Ana na cama:

Ana - papai, a gente vai ficar de "chameguinho"?
Eu - o que é "chameguinho", filha?
Ana - é ficar abraçada com papai aqui na cama
Eu - ah... então vamos ficar muito tempo de chameguinho
Ana - não papai, só um pouquinho que eu quero brincar.
Eu - tá certo.

E assim começou a manhã de domingo!


12/05
Voltando pra casa em noite de lua nova:

Ana - Cadê a lua?
Eu - A lua ta dormindo.
Ana - Mas cadê a lua?
Eu - Ela tá dormindo, ai a gente não pode vê-la. 
Ana - Eu posso gritar?
Eu - Oxi... Por que vc quer gritar?
Ana - Pra lua acordar!!!


30/04
Comendo num shopping, Ana olha pro meu telefone:

Ana - papai, coloca o rock que eu tava ouvindo
Eu - ahhhhhh

Escutávamos Titãs hoje pela manhã. Acho que estou fazendo certo!


10/04
Ana com seu picolé de limão:

Ana - papai eu quero lambar
Eu - filha, é lamber
Ana - papai, quero lamber
Eu - lamba!
Ana - quero lambar!
Oh português difícil!


28/03
Eu me preparando para ir a Recife e Ana:

- Quero ir com papai pro Canadá!
Oh... Agora explicar que é difícil!


05/03
Depois que viu sua ferida cicatrizada:

Ana - papai, cadê minha pereba?
Eu - filha, ela ficou boa e sumiu.
Ana - eu quero a minha pereba!
Eu - mas é assim, a gente colocou remedinho, fez curativo, ela ficou boa e sumiu.
Ana - mas eu quero a minha pereba. Tem que comprar!
Eu - Onde eu vou comprar uma pereba pra tu, Ana?
Ana - no shopping! 
Eu - tá!


25/02

Ana - papai, quem é esse? (vendo um show na TV)
Eu - É Stevie Wonder
Ana - eu gosto de Stevie Onda! (e começou a dançar)
Eu -:)


11/02

Ana - papai?
Eu - humm
Ana - papai, acorda!
Eu - hummmm
Ana - papai, acorda! Eu te amo!

E assim começou meu dia!!!


03/02
Ana vendo Chapolin, pergunta:

Papai, cadê meu Madruga?
Eu - filha, é Seu Madruga!
Ana - sim, Meu Madruga!
Eu - ahhhh, entendi.

Agora explicar que "Seu" aqui não indica posse que é complicado. Viva o português!

30/01

Ana - papai, cadê seu cabelo?
Eu - caiu!
Ana - então tem que comprar.


domingo, 13 de dezembro de 2015

Stéphanie e Sufjan (Um ano sem Québec)

Viver dois anos em outro país à princípio pode parecer fácil, mas não é. Listar as dificuldades e as descobertas é um clichê. Então vou tentar fugir disso... Na verdade, Québec me parece algo tão longe, tão distante, tão ermo... No meu cotidiano, é como se eu nunca tivesse vivido lá. Há momentos que eu até duvido da minha memória. Sei lá, pode ser um desses sonhos que são reais até a gente acordar...

Mas há uma coisa - na verdade duas - que me colocam diretamente em Québec e na vida que eu vivi:  as músicas de Stéphanie Dosen e Sufjan Stevens, dois artistas que não se parecem muito - a não ser pela emoção que imprimem em suas músicas. Por ironia, talvez, a primeira eu conheci em Petrolina, a segunda, em Salgueiro.

Basta ouvir All Delighted People e lá estou eu voltando pra casa depois de um dia trancado em uma sala da Université Laval numa noite fria de chão branco. Basta We have been lost tocar e eu estou andando pelo Plains de Abraham numa tarde fria de primavera. Heirloon começa e eu volto às noites tão difíceis de quinta em 2013. Lakes of Canada começa e eu me vejo pelas ruas de Ste-Foy... é impossível listar todas as músicas, lugares e sensações...


Eu vejo fotos, eu converso com os amigos que lá fiz... Eu até reencontro as pessoas, mas nada é mais impactante que as músicas... Há um ano eu regressava ao Brasil e Quebec ficou "nas vozes" de Sufjan e Stephanie. 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

A fossa e como Fagner me tirou dela

Eu nunca fui um cara que sofreu muito por amor... Me apaixonei pouco e, felizmente, foram todas correspondidas... Eu nem posso afirmar se isso é bom ou ruim porque a experiência dos outros não me diz nada... Claro que posso imaginar, mas não sentir... Até hoje, sou um homem de poucas mulheres, então me identifico menos com Martinho da Vila e mais com George Harrison.

Mas eu tive uma fossa, daqueles de te deixar sem jeito, daquelas de tirar meses de sossego e de me jogar numa fase "raparigueiro", usando uma expressão grosseira das bandas de onde vivo... Por meses eu andei por ai sabe lá com quem... E peço desculpas se decepcionei alguém (muito embora acho que nenhuma vá ler esse texto mesmo).

Bref...

Lembro que naquele ano de 2000, éramos quatro amigos (duas mulheres e dois homens) recém saídos de seus relacionamentos e completamente sem rumo. E o que você faz em Recife durante a festa São João quando você não tem rumo? Vai para Caruaru... e foi o que fizemos... E lá chegando, tinha Fagner! Tinha Fagner! Ah, Seu Fagner...

Depois de quase um ano de idas e vindas; de "revivals", que pioravam mais do que ajudavam e de uma "gandaia" que pouco tinha a ver com minha personalidade, Fagner me resgatou... Entre Canteiros, Eternas Ondas, Jura Secreta, Cebola Cortada, À palo seco, Revelação, Noturno, Revelação, Frenesi, Asa Partida e Fanatismo (eu não posso garantir que essas músicas foram todas tocadas no show, na minha mente foram, na realidade, não sei...), eu chorei, ri, chorei, ri... abracei meus amigos, fui abraçado e... zerei a vida!

Naquela noite, a "roedeira" foi grande, mas Fagner me resgatou! Nós quatro curtimos, ninguém pegou ninguém e no dia seguinte cada um seguiu sua vida...

Depois daquele 24 de junho, eu estava novo! Estava pronto! Acabou a fossa, simples assim! E então aquela menina tímida que eu conhecera dois meses antes pela Internet (no antigo chat do Uol) deixou de ser um nick... Foi me livrando do passado e do "galho em galho" que a vida se acertou... E tá certa até hoje.

Mas sem aquela noite em que Fagner me salvou, não sei onde e como eu estaria, tanto ele, como a menina tímida da Internet estão na minha vida até hoje. 

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Monsieur Clauzon, o "parisiense" gentil

E eu que já tinha preparado a sequência de músicas para as cinco horas de viagem,  fui surpreendido. Em vez de desfrutar os novos discos dos septuagenários David Gilmour e Keith Richards, tive a grata surpresa de conhecer o Monsieur Clauzon, 82 anos!

Monsieur Clauzon é uma dessas pessoas com uma história riquíssima, filhos de pais franceses, nasceu no Vietnã e só veio à França aos quinze anos de idade. 

Chegou no trem tranquilamente, me cumprimentou, sentou ao meu lado e começou a puxar papo. Eu respondi educadamente, mas estava mesmo com a cabeça nas músicas que iria ouvir. Monsieur Clauzon insistiu educadamente em conversar (características pouco presente nos parisienses que encontramos por ai), tirei os fones do ouvido e embarquei na viagem dele...

Foram cinco horas de conversa sobre vida, morte, viagens, filhos, imigrantes, futebol (como ele conhece bem o tema) e sua maior paixão: a fusão à frio. Ele falou sobre o tema de uma forma apaixonada e me mostrava dados e nomes de pessoas manuseando com desenvoltura seu smartphone! Por fim, minha filha ainda ganhou um presente (um jogo que não sei muito bem como funciona ou se é para sua idade).

A serenidade do Monsieur Clauzon me chamou muita atenção, assim como a sua frustração. Ele havia descoberto a tal fusão tardiamente e, segundo ele, não estaria mais presente nesse mundo quando ela se tornasse uma realidade.

- Comecei tarde demais. Fiz tanta coisa, mas essa que pode mudar o destino da humanidade, eu comecei tarde demais - Disse tranquilamente o Monsieur Clauzon.

Eu fiquei ali olhando aquele senhor. Eu estava surpreso e pensando um monte de coisa ao mesmo tempo...


Monsieur Clauzon vai deixar esse mundo, se cedo ou tarde, eu não sei. É provável que eu nunca mais tenha notícias dele ou que a fusão não passe de experiências dentro de um laboratório, mas a lembrança daqueles cinco horas entre Toulouse e Paris ficarão guardadas. 

- Muito obrigado pela agradável viagem Monsieur Clauzon - Assim eu me despedi. 
- Aproveite a vida - respondeu ele.  


domingo, 4 de outubro de 2015

Sob influência de Keith


Nos primeiros minutos do filme, escutando um blues, Keith pega um copo com whisky. Pausei! Imediatamente fui uma dose pra mim também. Isso é coisa pra se assistir com whisky...
  
Keith Richards, a persona quase indestrutível que conhecemos está lá! Com todos os seus maneirismos ao tragar um cigarro, andar com os ombros "soltos", falar como se as palavras não fossem sair e tocando na guitarra como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo (para ele, parece ser).

Londres, Chicago, Nashville, Nova York... Muddy Waters, Howlin' Wolf, Chucky Berry, Rolling Stones X-pensive Winos... Blues, rock, country, reggae... Keith não é indestrutível, certamente. Percebe-se a força dos anos em seu rosto e suas mão.

Porém, diferente do seu livro Vida, o documentário não procura apresenta um lado desconhecido de Keith, parece mais uma tentativa de mostrá-lo assim como ele é. Pode ser uma boa introdução para quem nunca o viu fora dos Stones, mas certamente é excelente para quem já está familiarizado com sua imagem. Ver Keith fora dos Stones é a melhor maneira de tentar entendê-lo e, principalmente, perceber a força criativa por trás da banda.

- Parece que quando você era jovem você queria ser como um desses caras (bluseiros como Muddy Waters) e agora você é - diz um entrevistador.  
- Sim, eu sei - com um olhar indescritível...

Esta é uma das cenas finais e diz muito mais sobre Keith o que os 70 minutos de Under influence. O documentário termina e eu estou sob influência de Keith e Whisky! 

sábado, 22 de agosto de 2015

Tem que ser julgado, avaliado, rotulado, carimbado se quiser voar...e se quiser outras coisas também

Oh cara, toca Raul!!!!!  Não sei exatamente se você já ouviu esta frase ou variante dela em algum bar que você já frequentou, eu já , e não foi pouco. Mas por que razão citar  Raulzito no caput do texto? Bem, é simples. O ano provavelmente era 1983 e eu tinha 4 anos, sei que foi a primeira vez vi isso naquele programa infantil e lá estava Raul Seixas, não sabia quem era ele, mas lembro-me bem da música e depois revi as imagens no YouTube (sempre ele para ajudar a revirar as profundezas de nossas almas e memórias. Contudo, como diz a imortal frase de Connan “Mas isso é outra história...”)

Voltemos então ao assunto original. Obviamente, em minha mente algumas frases referentes à música citada ficaram registradas em minha memória infantil e me acompanham até hoje, ainda mais quando converso com o Sid (dono deste blog). Umas destas frases são “...Tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado se quiser voar! Se quiser voar....” e a outra “Mas já pro seu foguete viajar pelo universo, é preciso meu carimbo dando o sim, sim, sim, sim”. E é a partir daí que realmente começo este texto. Desculpe ter sido prolixo.

De volta para o futuro, ou melhor dizendo para o presente e/ou talvez para o passado recente, tenho com frequência lido os comentários na internet relacionados a política e outros assuntos um pouco menos densos também. Sim, tenho optado por preferir os comentários e não necessariamente o conteúdo jornalístico.

Assim, estas leituras remetem à minha época de estudante em uma universidade federal no Rio Grande do Sul há 13 anos. Era um período em que algumas expressões passaram a fazer parte do meu cotidiano e eu, naquela época , ainda não sabia muito bem o que elas significavam.

Era curioso ouvir algumas pessoas, a maioria delas na verdade, fazer uso de expressões como reacionário, conservador, neo liberal de merda, ditador sem que elas mesmas nem soubessem muito bem o que significava isso, mas ok, melhor era guardar pra mim essas opiniões. Afinal, aqueles genuínos democratas não iriam mesmo querer aceitar o contraditório. Outra coisa curiosa também, era ouvir comentários e olhares de desprezo e reprovação quando argumentava coisas do tipo “ué, mas qual o problema do cara ser rico, mesmo que seja o George Soros?” ou então “Mas vocês não acham que o problema não é o capitalismo, o problema é sim o que ALGUNS SERES HUMANOS fazem com ele?" Confesso, creio que ali começava a nascer em mim uma simpatia por algumas ideias de Max Weber sem mesmo conhecê-lo, imagina a “heresia" estudar Weber na Geografia e esta aversão não viria dos Professores - constantemente chamados de “de direita” por aqueles que simpatizavam com o barbudinho e leram o Autor pelos lábios dos outros e pelas orelhas. Não as orelhas dos livros mas pelo que foi dito a eles que o autor escreveu..

Obviamente, minha inocência e/ou burrice, não me fazia perceber que dizer isso num curso de Ciências Humanas, cheio de defensores de um certo barbudo nascido na Alemanha e amigo de Engels , certamente iria me causar vários problemas. E de certa forma causaram, mas foda-se, na atualidade acho graça disso.

O fato é, terminei a graduação, emendei no Mestrado e hoje, treze anos após iniciar minha graduação as mesmas palavras estão bombando pela web ( reacionário, conservador, neo liberal de merda , ditador, alienado - sendo que nestes casos, os adjetivos se referiam somente a quem não colocava uma camisa de CHE ou  não andava barbudo, a barba não podia ser por  desleixo, preguiça ou vontade de não tirá-la. Mas por ideologia, sempre) e assim, lembro-me de um momento em que na Universidade, um colega me disse que era exatamente isso que Raul dizia e nós éramos crianças para entender.

Como disse Raul, tem que ser julgado, avaliado, rotulado, carimbado se quiser voar... e  também, se não quiser se meter em discussões que não interessam a você por julgar perda de tempo ou por discordar daqueles que sabem resolver os problemas do mundo, mas que muitas vezes não conseguem organizar uma lista de prioridades no cotidiano, independente da posição política e ou partidária.

Agora deixa eu ir embora. Afinal tenho que fazer a revolução ou mudar o país, você escolhe sua frase preferida. Mas espero que ela (a revolução e/ou a mudança) não chegue na hora marcada. Afinal, não deu tempo de ir ao shopping comprar minha camisa da seleção brasileira e/ou arrumar com os “companheiro” uma bandeira de movimento social (sabe que esqueci de fazer uma lista com as minhas prioridades de hoje). Claro, durante a manifestação eu vou postar tudo no Insta, meu smartphone, eu sempre levo comigo para postar fotos nas baladas e nas manifestações. Com o perdão da redundância.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Adeus ao Geógrafo!

Eu conheci geógrafos fantásticos. Tive e tenho o privilégio de conviver com mentes brilhantes. Até hoje uma das coisas que mais me orgulham é ter sido avaliado na banca de Mestrado por Manuel Correia de Andrade.

Mas hoje é um dia triste... Faleceu o geógrafo brasileiro que mais admiro, ou admirava porque ele não está mais aqui... Não, sempre irei admirar!

Eu o conheci num evento em 2005 em Recife. Eu, timidamente, levava um livro escrito por ele que era a base da minha dissertação. Ele me recebeu de maneira muito cordial e perguntou meu nome. Eu disse "Sidclay". Ele riu e me contou uma história de como os pais dos anos setenta haviam colocado nomes estranhos em seus filhos... Até hoje conto essa história.

A partir daquele momento, estreitamos os laços. Estive em São Paulo e ele me recebeu na USP, conversamos sobre um possível doutorado, ele não só me aceitou como me disse que eu já poderia me inscrever na próxima seleção, três meses depois. Ainda abriu as portas da universidade para mim e me apresentou outros estudantes... Fatidicamente não passei na seleção daquele ano, quem mandou não saber espanhol? Fiquei frustrado. 

Mas as coisas continuaram, meses depois, eu já professor universitário, fui participar de um evento na USP. Ele, mais uma vez me recebeu e conversamos longamente sobre geografia, experiências acadêmicas, metodologias, possibilidades... Desde então sempre mantivemos contato por email porque eu nunca tive coragem de ligar para ele, mesmo tendo seu número. Era difícil estar tão próximo do meu símbolo acadêmico. 

Para mim, Antonio Carlos Robert Moraes foi um exemplo de geógrafo engajado, extremamente competente, um enorme influenciador, uma referência imprescindível para quem quer entender o Brasil e, principalmente, um ser humano fantástico. Estava tão acima da média e mantinha os pés no chão sendo simples com todos, não importava se era um "ban ban ban" ou simples estudante de graduação.

Tenho todos os seus livros aqui. Eu os cito todo o tempo. A ideia do meu doutorado surgiu de um texto seu: "Sertão, um outro geográfico"... e sempre me recordo dele dizendo "A Geografia Histórica é a minha cachaça"!

Foi embora a minha maior referência em geografia, mas fica a lembrança e seus livros...

Adeus, Tonico!

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Smells like Cássia Eller

Vendo o documentário Cássia, lembrei de um grande amigo me dizendo lá nos anos 90:

- Sid, tu conhece Cássia Eller?
- Não
- Porra, ela é foda... tem que ouvir...
- Vou dar uma sacada...

E daí nunca mais voltei...Ela morreu, mas quase todo mundo que escuto já morreu mesmo, não faz diferença... Cássia marcou um período de muitas mudanças na minha vida e creio que por isso, pertence às minhas listas emocionais.

O documentário é mais um desses que não trazem nada de novo, tipo aquele extra do dvd. As imagens são raras, pelo menos eu acho. A edição com os vários recortes de fotos e vídeos mostra um enorme cuidado. Um documentário pro grande público... Mais do mesmo....

Eu queria mesmo é entender a artista, saber porque ela era como era, como escolhia as músicas, como as transformava... Isso o documentário não tem. Parece uma propaganda da Cássia, do tipo que ela não gostaria de ter e com um final quase melodramático por causa da tutela do seu filho...

Mas esse é meu lado racional...

No fundo, eu adorei! Foram quase duas horas de Cássia e isso eu não tinha desde quando a vi ao vivo. É bom rever Cássia, é bom lembrar de como eu acompanhava cada lançamento seu.

E Cássia... como você faz falta...


quarta-feira, 18 de março de 2015

Soneto na madrugada



Foram nos últimos anos do século passado que me agarrei definitivamente à madrugada. Eu já era apaixonado por ela, mas me sentia culpado porque dormir de dia era algo de preguiçoso... 

Mas em algum momento depois de 1997 eu já estava bem habituado a dormir depois das quatro da manhã (sempre antes do sol começar a nascer) e acordar lá pelas 11 da manhã. Meu dia começava mesmo ao meio-dia! Assim sempre foi e todas as vezes que tentei mudar, foi uma catástrofe... 

Claro que vivendo numa sociedade diurna, quando necessário, me adapto, mas logo volto às minhas horas noturnas. Minha mente pensa mais rápido e com mais lucidez na madrugada. Me sinto mais à vontade, assim é, provavelmente, assim sempre será. 

E por que to escrevendo isso? Totalmente ao acaso, começou a tocar num vídeo que assistia, a música Bittersweet Symphony! Aí fui ouvir o disco Urban Hymns do Verve, há mais de uma década que eu não o escutava... Voltei no tempo, me senti em Recife em fins dos anos 90... Fiquei lá por algum tempo... Um tempo em que eu era um pós-adolescente ouvindo música na madrugada sem as normas e regras da moderna vida adulta...

Ah... e sobre o soneto do título? No sonnet! A música que inspirou esse post...E como eu escutei lá.. e como eu a escutei essa madrugada!

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